quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Dicas para o ENEM

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7 dicas de aplicativos para preparar os alunos para o ENEM poupando tempo
Preparar os alunos para o Enem é uma tarefa que exige muita dedicação do professor, que muitas vezes perde tempo preparando simulados e escolhendo as questões uma por uma. Mas você pode poupar esse tempo e ainda assim preparar bem seus alunos usando a tecnologia!
Aplicativos poderosos
Se os jovens usam seus celulares e tablets para quase tudo, por que não aproveitá-los para estudar para o Enem? Além de serem de fácil acesso, pois estão na palma da mão, utilizar essas ferramentas também poupa tempo, já que elas são direcionadas para o Exame. Confira 7 dicas de aplicativos que selecionamos!
  • Manual de Redação
Uma das maiores preocupações de quem se prepara para o Enem é a redação. O aplicativo Manual de Redação dá dicas sobre os mais diversos tipos de produção de texto: dissertação, narração, crônica, carta, etc.
Ao clicar no tipo de texto, o aplicativo dá as características daquele tipo de produção e dicas do que a introdução, o desenvolvimento e conclusão da redação devem conter. A ferramenta é gratuita e está disponível para dispositivos Android.
  • Nota 1000
Outra ferramenta focada na redação, o Nota 1000 é um app de correção de textos. O estudante envia sua redação pelo aplicativo e, em até três dias, ela é devolvida corrigida por e-mail.
Todos os dias há novas propostas de redação no app e é possível tirar dúvidas com professores durante a maior parte do tempo. Os usuários também podem participar de bate-papos com outros estudantes. O aplicativo está disponível para dispositivos Android.
  • Passei! Enem
Este aplicativo é um banco de questões com mais de 500 exercícios retirados de provas antigas do Enem. O Passei! Enem divide as questões em 8 cadernos que podem ser acessados individualmente: Biologia, Física, Química, Matemática, Linguagem, Humanidades, História e Geografia.
Ao clicar em “Prova Rápida”, há um simulado com questões de todas as disciplinas.Além disso, é possível adicionar comentários, sinalizar as questões e salvar o seu desempenho para comparar depois.
O aplicativo, que funciona sem conexão com a internet, está disponível para dispositivos Android e IOs.
  • EstudaVest
O EstudaVest é um aplicativo específico para fazer simulados e resolver questões de provas anteriores. Nele, o estudante pode escolher os assuntos que deseja para responder diversas questões relacionadas.
Ao clicar em “Questões”, o aluno pode escolher a disciplina e a área específica que deseja estudar. Por exemplo, se escolher a disciplina de Geografia, poderá definir se deseja praticar Geografia Geral ou Geografia do Brasil, aspectos humanos, naturais ou econômicos, e assim por diante. Também é possível selecionar todas as áreas ao mesmo tempo.
Já em “Provas”, o aluno encontrará provas completas de vestibulares e do Enem. Em “Simulados”, é possível gerar um simulado ou participar de desafios com outros usuários do app. A ferramenta é gratuita e está disponível para dispositivos Android.
  • Geekie Games Enem
Esta plataforma é credenciada pelo Ministério da Educação e é o aplicativo oficial da Hora do Enem. O app disponibiliza resumos, videoaulas de todo o conteúdo do Enem e vestibulares, exercícios e simulados oficiais com notas TRI.
Na versão paga, é possível montar um plano de estudos em formato de jogo, personalizado e baseado no curso de escolha do estudante, no seu ritmo de estudo e com foco no que ainda precisa melhorar.
Além de dispositivos Android, a plataforma também pode ser utilizada no computador pelo site Geekie Games Enem.
  • Pense+ ENEM
O Pense+ENEM tem um diferencial dos outros aplicativos de simulados que indicamos antes: ele funciona de maneira otimizada para smartphones. Todas as questões podem ser respondidas diretamente no dispositivo para facilitar o estudo e a aprendizagem.
O aplicativo conta com 1415 questões, organizadas conforme as categorias do MEC: Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens e Matemática, contendo as provas do Enem de 2007 a 2015.
Os simulados podem ser realizados offline e há a possibilidade de salvá-los, para que o usuário acompanhe a sua evolução. O Pense+ENEM está disponível para dispositivos Android.
  • Enem 2017 Simulado Gabaritando
Este aplicativo traz de tudo um pouco: simulados e questões de diferentes níveis, notícias, dicas, cronograma de estudos, resumos e vídeo aulas de diversos canais. É possível montar um cronograma de estudo, criar simulados personalizados e acessar resumões  de todas as disciplinas abordadas no Enem.
Essa ferramenta tem uma funcionalidade diferente que instiga os usuários: os tokens. A medida que avança nos estudos e na realização de questões, o estudante desbloqueia conquistas e tem acesso a mais conteúdo. Há desafios diários para motivar a utilização.
O app é gratuito e a versão 2017 já está disponível para dispositivos Android. Quem tem um IOs pode acessar a versão 2016.
  • Dica bônus: Prova Fácil
O professor que aplica simulados do Enem em sala de aula também pode facilitar seu trabalho e poupar tempo com o aplicativo Prova Fácil, da Starline Tecnologia. Ele é um aplicativo de correção de provas que pode ser utilizado em computadores, tablets e smartphones e é ideal para a correção de provas fechadas e em larga escala. Com ele, o professor pode elaborar e corrigir provas em apenas três passos:
  • Diagramando: o software oferece alguns modelos de prova prontos, basta escolher. No entanto, você também pode diagramar e elaborar a própria prova de acordo com as suas necessidades particulares, como o número de questões que você gostaria de submeter aos seus alunos.
  • Criando o gabarito: depois de a prova já ter sido diagramada, é hora de marcar as respostas certas de todas as questões do teste em uma folha de respostas. Esse gabarito oficial será usado mais tarde, pelo próprio software, para comparar marcações dos alunos com as respostas certas.
  • Corrigindo: Depois de as provas devidamente preenchidas, é hora da correção. O Prova Fácil mapeia a prova preenchida e, automaticamente, compara a folha de respostas com o gabarito já assinalado pelo professor. O resultado, com as notas dos alunos, sai praticamente em tempo real.
É possível cadastrar-se gratuitamente ou, dependendo da demanda do professor, assinar um dos planos. Saiba mais!
Preparar os alunos para o Enem pode ser uma tarefa mais simples e produtiva se você contar com a tecnologia! Os simulados ficam mais fáceis e você ganha tempo para discutir o conteúdo.
Quer mais praticidade ainda? Então você deve considerar usar um sistema de gestão de provas! Conheça as vantagens de usar um sistema de gestão de provas para diagramar provas online automaticamente.
Tem uma dica de outro aplicativo ou já usou um dos que indicamos?
Comente e conte para a gente!

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Escola sem partido?

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[PESQUISA] Novo curso online do Instituto Paulo Freire

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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Cursos EAPE Segundo Semestre 2017

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Olá tudo beleza! 
Informo que saiu o resultado dos cursos do segundo semestre da EAPE. Se você se cadastrou de uma olhadinha se foi contemplado.
Aproveito pra informar que se você não conseguiu JÁ ESTÃO ABERTAS as vagas remanescentes. Venha fazer o curso FERRAMENTAS GOOGLE PARA EDUCAÇÃO - GSUITE. Acesse agora www.eape.se.df.gov.br 

Ajude a divulgar. Ainda temos vagas para a turma de terça feira vespertino em SANTA MARIA.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Uma reflexão sobre Educação Libertadora

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CONTRA O QUE? EM NOME DO QUE?
            Às vezes é muito difícil falar sobre ideias que deram origem ao Método Paulo Freire, porque elas são muito simples e algumas pessoas precisam complicá-las.
            Na verdade Paulo Freire não tem sequer uma teoria pedagógica definitiva. Ele tem um afeto e a sua prática. Por isso fica difícil teorizar a seu respeito, sem viver a prática que é o sentido desse afeto. Por isso é fácil compreender o que ele tem falado e escrito, quando se parte da vivência da prática do compromisso que tem sido, mais do que sua teoria, a sua crença.
            Como discutir com os termos complicados da ciência um educador cuja ideia-chave é o amor? Procure, leitor, folhear de alma limpa os escritos dele. Aos olhos ferozes dos tecnocratas do poder e da educação, pode ser que tudo aquilo não passe de uma espécie de poesia pedagógica, tão edificante quanto inviável. E aos seus olhos?
            Coisas simples. Paulo Freire acredita que o dado fundamental das relações de todas as coisas no Mundo é o diálogo. O diálogo é o sentimento do amor tornado ação. As trocas entre o homem e a natureza são originalmente regidas pelo diálogo. Paulo Freire pernambucanamente fala mesmo de “diálogo do homem com a natureza”. Isto quer dizer que as coisas que existem no mundo, da terra ao trigo, são dadas ao homem. Elas existem para ele e se oferecem ao homem para serem dominadas por ele. Para serem amorosamente transformadas e significadas pelo homem e para ele. O homem responde à dádiva da natureza com o ato do trabalho. O trabalho do homem é a sua parte no diálogo que deveria ser o fundamento de todos os outros atos humanos. Com o trabalho livre e solidário sobre a natureza, o homem cria a sua cultura, transforma o mundo, faz história e dá sentido à vida.
            Em si mesmas, as relações entre os homens não são mais do que um outro momento de um mesmo diálogo. Do mesmo modo como o homem depende da natureza para sobreviver e a natureza depende do homem para ter sentido, os homens dependem uns dos outros para sobreviverem e darem sentido ao mundo e a si mesmos. Por isso mesmo, o diálogo não é só uma qualidade do modo humano de existir e agir. Ele é a condição deste modo e é o que torna humano o homem que o vive.
            O trabalho não é uma relação entre o homem e a natureza (apenas). O trabalho é uma relação entre os homens através da natureza. Por isso ele deveria ser o domínio mais fervorosamente concreto do diálogo entre os homens. Transformar o Mundo, tornando-o cada vez mais humano, é o sentido do trabalho. E como todo o trabalho do homem sobre o Mundo é coletivo, ele é também um modo de exaltação da solidariedade entre os homens.
            Em si mesma a cultura, que é o resíduo que o trabalho humano deixa sobre o Mundo, deveria ser todas as formas visíveis ou comunicáveis da significação do diálogo entre os homens e de todos os seus efeitos sobre o Mundo.
            No entanto, a história concreta do homem nega de muitos modos o diálogo entre os homens e entre ele e a natureza, ainda que ela no horizonte seja a trajetória da reconquista do diálogo.
            Na prática as relações sociais do trabalho, ao produzirem os bens de que o homem sobrevive, reproduziram condições concretas em que alguns poucos sobrevivem do trabalho dos outros. Sobrevivem de deter modos de poder que surgem onde o diálogo acaba e onde o trabalho, afinal, separa e opõe categorias de homens opostos, de grupos e classes sociais antagônicos.
            A desigualdade entre os homens e as estruturas sociais dela derivadas: de produção de bens materiais, de reprodução da ordem do trabalho e de todas as outras relações entre todos os tipos de pessoas, de criação dos símbolos e significados com que a consciência representa o mundo e os homens se comunicam, gera o reinado da opressão. Gera e preserva um tipo de Mundo ruim que, não obstante, é preciso transformar.
            Na sociedade desigual (“colonialista”, “capitalista”, “opressora”) também o saber aparece dividido entre os homens. Em primeiro lugar ele não existe plenamente como representação coletiva e solidária do mundo concreto onde se vive, tal como ele é. O Poder, que controla politicamente a ordem social que o sustenta, também determina ideologicamente o saber, o pensamento, os valores, os símbolos com que se apresenta como legítimo. Ele cria e recria os instrumentos e artifícios para que as pessoas oprimidas por ele pensem como ele, pensando que pensam por si próprias.
            A educação é um destes instrumentos. Ela é um destes artifícios. Ao falar primeiro de uma educação bancária e, mais tarde de uma invasão cultural dominante sobre a cultura e a consciência dos sujeitos oprimidos, Paulo Freire leva às últimas consequências a sua crítica política da educação que serve ao poder da sociedade desigual.
            Tomemos o exemplo da própria alfabetização. Nas experiências tradicionais dos programas oficiais, o ensino do ler-e-escrever mistura à palavra de ilusão uma realidade de fantasia. O mundo que ali se mostra oculta, justamente, o mundo que aqui se vive. Através de figuras, palavras, frases, indicações de leituras, a realidade social aparece ao educando como um fetiche: um mundo dado, irreal, pronto e estático, bonito, acabado e sem conflitos.
            Assim, o acesso real do aluno à uma compreensão de Mundo através da alfabetização, mistura opostos. Mistura uma eficácia real para a leitura da língua (de fato se aprende a ler-e-escrever – competência técnico-ética) com uma ineficácia para a leitura da vida (de fato se aprende a ler como verdadeiro aquilo que é irreal e como irreal aquilo que poderia ser tornado humanamente verdadeiro – competência ético-política).
            A educação imposta aparece como ofertada. O interesse político de tornar, também a educação, um instrumento de reprodução da desigualdade e de ocultação da realidade à consciência, aparece como uma questão de trabalho técnico sustentado por princípios de ciências neutras. Assim, a educação que serve, nas mãos do poder que oprime, para ocultar de todos a própria realidade da opressão e para fazer os homens cada vez mais diferentes pelo grau diferenciado de saber que distribui, oculta-se a si mesma.
            Parte do próprio trabalho da educação opressora é disfarçar-se de “neutra”, de “humana” ou de “democratizadora”. Ela pode melhorar pedagogicamente (técnico-ética), mas politicamente (ético-política) apenas aumenta o poder de dividir e iludir.
            No entanto, o poder da opressão política não é absoluto e a mesma história humana que o cria, mais adiante o destrói. No entanto, também, o poder do saber opressor e o poder dos sistemas e artifícios de sua difusão não são absolutos.
            A consciência do oprimido, que aprende com o trabalho pedagógico da educação do opressor a pensar como ele e a legitimar a ordem de Mundo que ele impõe, aprende a pensar por si própria (também). Aprende a desvelar a mentira do saber imposto, quando aprende a fazer a prática política cujo horizonte é a sua liberdade. É a construção progressiva, mas irreversível, de uma sociedade conquistada pelo povo, e, então, reconduzida do diálogo.
            A consciência do povo é invadida de muitos modos pelos símbolos do saber de quem o oprime através do trabalho. No entanto, invadida, ela não foi conquistada (plenamente). Por isso é legítimo pensar no poder de uma outra educação.
            É legítimo pensar em um trabalho pedagógico que se realiza todos os dias, em todas as situações em que as classes populares vivem o trabalho de sua própria organização política. Se um educador pretende ser consequente com a ideia de criar com o povo a condição da conquista de sua própria liberdade, nada é mais importante do que isto. Quando a consciência do oprimido acompanha a prática política popular, ela aprende a pensar a si própria e ao mundo, do ponto de vista desta prática. Por isso, a educação libertadora que é, ao mesmo tempo, o sonho e o método de Paulo Freire, é a reflexão desta prática popular, tornada possível também através da participação do educador: com o seu saber que subverte a intenção de domínio da educação opressora; com os seus recursos colocados a serviço da educação do oprimido.
            Nisso tudo a coisa aparentemente pequena, que é um trabalho de alfabetização de homens adultos do povo, tem o seu lugar. Porque não é mais do que um outro instrumento conquistado para a educação popular, para o lado de sua prática. Mas um instrumento que, entre o sonho e o método, atua no domínio do saber. De um saber popular a que serve e de onde o educador espera que venha um dia a conquista da volta definitiva do diálogo.
            Por isso também o próprio método de alfabetização que Paulo Freire pensou funciona de tal sorte que realiza, dentro do círculo de cultura, a prática do diálogo que o sonho do educador imagina um dia poder existir no círculo do mundo, entre todos os homens, aí sim, plenamente educadores-educandos de todas as coisas. Daí surge a própria ideia de conscientização, tão nuclear em Paulo Freire. Ela é um processo de transformação do modo de pensar. É o resultado nunca terminado do trabalho coletivo, através da prática política humanamente refletida, da produção pessoal de uma nova lógica e de uma nova compreensão de Mundo: crítica, criativa e comprometida. O homem que se conscientiza é aquele que aprende a pensar do ponto de vista da prática de classe que reflete, aos poucos, o trabalho de desvendamento simbólico da opressão e o trabalho político de luta pela sua superação. (pp. 102-109).

“Dois livros de Paulo Freire são fundamentais: A Educação como Prática da Liberdade e Pedagogia do Oprimido, ambos da editora Paz e Terra. Não importa que o próprio autor considere às vezes superadas algumas ideias do primeiro livro. Ali elas tomaram a forma de um livro pela primeira vez.” (p 111 – indicações para leitura).

Trechos retirados de: Brandão, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Nova Cultural: Editora Brasiliense (Coleção Primeiros Passos).1985.

Obs.: Todos os destaques são nossos.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

As Dinastias do Poder e as lutas de classe

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As Dinastias do Poder e as lutas de classe

Fernando Horta 

A Ciência não é neutra. Nada, aliás, o é. Mas a Ciência, de todas as formas de aquisição de conhecimento, é a mais objetiva e a que tem tido os melhores resultados práticos. Desde 1620, quando foi publicado o livro Novum Organum de Francis Bacon, a estruturação de uma metodologia científica tem propiciado um intenso desenvolvimento da humanidade. A aquisição de conhecimento e sua validação atingiram também a própria Ciência que se critica e reconstrói a todo o momento.
É claro que vivemos um momento de anti-intelectualismo, em que o conhecimento consolidado precisa lutar por legitimidade com vídeos ou notícias apócrifas na rede mundial de computadores. E esta luta é inglória, pois o juiz frequentemente carece de ferramental cognitivo para fazer a função de julgar. Fica tudo na opinião pessoal, como se nada dali em diante pudesse ser verificado.
Pensando nisto, resolvi trazer alguns trabalhos muito bons que tive a oportunidade de acompanhar tanto na última ANPUH (Associação Nacional de Historiadores) como na SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia). Ambos os eventos se deram em Brasília na semana que passou. E, junto com a Ciência Política e a Antropologia estão entre as disciplinas que mais tem a dizer no momento atual. E as mais negligenciadas.

As dinastias do Poder e a Luta de Classes

Há muito que se fala na tática de consolidação do poder através de laços familiares. No plano geral, a obra de Perry Anderson, “Linhagens do Estado Absolutista”, demonstra a “política de casamentos” como forma de unificação dos Estados Nacionais europeus. No Brasil, o livro de Raymundo Faoro, “Os donos do poder”, em que pese hoje criticado, estabelece uma ligação entre o exercício do poder e as relações interpessoais para se chegar aos postos deste exercício. Faoro argumenta pelo sentido estrutural, mas existem pesquisas que vão nas micro relações.
Ricardo Costa de Oliveira, José Marciano Monteiro, Mônica Helena Goulart e Ana Christina Vanali (todos professores doutores) apresentaram um estudo das relações familiares dos integrantes da Lava a Jato e do ministério de Temer na SBS. Um pequeno fragmento dos seus trabalhos doutorais de mais fôlego. Todos estudam estas relações espúrias, daquelas famílias de “homens bons”, todos ligados ao poder. Há quem pense que é fruto de uma genética privilegiada, afinal todos da família são meritocraticamente destacados. A realidade é que a teia de poderes familiares no Brasil, vai de norte a sul sem muita diferença.
Os pesquisadores mostram, com desprendimento científico, o que advogados sabem (e sofrem), o que os membros honestos dos poderes estão cansados de saber (e calar) e o que a mídia solenemente ignora (porque frequentemente é favorecida) deixando o povo na mais completa ignorância. O poder no Brasil é uma coisa familiar. E não é por acaso que a maior crise institucional no Brasil se dá quando o congresso é composto pela maior quantidade de “herdeiros” e o judiciário, da mesma forma.
Primeiro, é preciso ressaltar que TODOS os integrantes da “Força Tarefa da Lava a Jato”, que tem na figura do Juiz Moro o principal agente acusador, estão entre o 1% mais rico da população brasileira. Mais da metade está entre o 0,1% mais rico, devido aos seus ganhos estatais. Isto apenas para recolocar a questão “antiquada” da luta de classes em seu devido lugar. Em cem anos dirão – com certeza – através de dados e pesquisas, que a Lava a Jato foi o instrumento das elites políticas e econômicas contra os projetos de diminuição da desigualdade no Brasil. Como um “cala a boca e fica no seu canto” dado pelas elites urbanas, com títulos acadêmicos (embora parco conhecimento), brancas, conservadoras e enriquecidas aos “desagradáveis”, aos “insuportáveis” e aos “desnecessários” na visão delas mesmas.
Depois, o trabalho envereda para mostrar que todo o grupo da Lava a Jato (com exceções nada honrosas) são “advindos de famílias em que pais e familiares atuaram e/ou atuam no sistema de justiça, muitos no período da última ditadura militar” (citado do original). O ministério de Temer é ainda pior.
Um ponto interessante, levantado pelos pesquisadores, é o fato de que não apenas Moro e Yousseff estiveram presentes no processo do Banestado (2003-2004), em que as lideranças do PSDB, PP e do PFL (atual DEM) estavam envolvidos em crimes de corrupção e financeiros. Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Januário Paludo e Orlando Martello Junior, que fazem parte da Lava a Jato também estavam naquele processo. E, pasmem, os policiais federais Marcio Anselmo e Érika Mialik também. Yousseff talvez tenha como regra para cada dez anos de ilicitude, uma delação premiada. Algo como “férias merecidas” e o apagamento de seus crimes. Mas o número elevado de membros presentes nas duas operações levanta a tese do esquema organizado. Uma espécie de “gatilho político” que as elites teriam caso o “andar de baixo” resolvesse realmente entender o que é democracia. Uma bomba institucional que ficaria ali latente até poder ser usada politicamente contra quem valesse a pena, por quem tivesse força para usar.
O caso do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima é ainda mais constrangedor. Carlos é filho do deputado estadual da ARENA, Osvaldo Santos. Deputado, promotor e presidente da assembleia em 73, apoiador da ditadura militar. Segundo os pesquisadores, Carlos foi casado com Vera Márcia que é “ex-funcionária” do Banco Banestado. E que atuava no banco, nas mesmas agências investigadas pela ação do Banestado, nas mesmas funções investigadas durante todo o período que seu esposo fazia as investigações. Depois, Vera Márcia, ainda casada com o procurador foi transferida para a Agência da Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, apenas a agência com maior suspeita de fraudes e ilicitudes. 
Sobre Moro, os pesquisadores levantam a já conhecida e estanha formação acadêmica “à Jato”, mas se detém em sua esposa. Rosângela Wolff de Quadros “fez parte do escritório de advocacia Zucolotto Associados, em Maringá (...) que defende várias empresas petrolíferas estrangeiras” (cito do original). Afora todas as relações da genealogia de Rosângela com a elite estatal paranaense, os pesquisadores levantam que Rosângela Moro é prima do prefeito Rafael Greca de Macedo e – agora vem a pérola de ironia histórica – “ambos descendem do Capitão Manoel Ribeiro de Macedo, preso pelo primeiro Presidente da Província do Paraná por acusações de corrupção e desvio de bens públicos em instalações estatais”. Para os que não lembram, Greca é o prefeito que tem nojo do cheiro de pobre. Tanto Moro quanto Rosângela Wolff tem parentes desembargadores no Paraná afora as relações com Flávio Arns e Marlus Arns que atuaram como advogados de réus da Lava a Jato. Os pesquisadores falam da “lucrativa indústria advocatícia da Lava a Jato” em que Moro prende, e conhecidos dele e de sua esposa são contratados para tentar soltar os réus. A preços módicos, claro.
Só para não ficar sem falar do vice-presidente, dos trinta e um ministros de Temer, dezessete “apresentaram significativos capitais sociais e políticos familiares nas suas trajetórias” mostrando que “a característica familiar do sistema judicial e do governo do Brasil” está presente em todas as regiões.
É de se entender o motivo de Temer atacar a Ciência no Brasil e em especial as humanidades. Em regimes autoritários, os primeiros ataques são aos historiadores, sociólogos e cientistas políticos. Se dirigem àqueles que têm ferramental para demonstrar a violência, criticar e abrir os processos de poder. Felizmente, ainda temos quem faça pesquisa e Ciência no Brasil. Felizmente não poderão dizer, daqui a cem anos, que a sociedade brasileira não foi avisada do caos a que está sendo levada e de como eram as relações de poder de quem a levou. Não nos furtamos, enquanto cientistas, de demonstrar que a “neutralidade” é uma mentira tão grande quanto a “meritocracia”. É a velha luta de classes em seu viés mais abominável. Travestido de institucionalidade técnica.


• SBS 2017 OLIVEIRA, Ricardo; MONTEIRO, José; GOULART, Mônica; VANALI, Ana. PROSOPOGRAFIA FAMILIAR DA OPERAÇÃO “LAVA-JATO” E DO MINISTÉRIO TEMER.