MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS E A NARRATIVA DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO – SINPRO-DF
Com o tema Militarização das escolas e a narrativa
da qualidade da educação, Daniel Calbino Pinheiro, Rafael Diogo Pereira e
Geruza de Fátima Tome Sabino desenvolveram o trabalho, que tem por objetivo
analisar as concepções e condições para a qualidade manifesta na defesa dos
colégios militares e escolas militarizadas. Enquanto resultados mostraremos que
por trás do resgate da pedagogia militar da educação, os padrões de qualidade reproduzem
a mesma dinâmica dos sistemas de avaliação dos governos anteriores, silenciando
ainda as condições materiais que legitimam os supostos desempenhos acadêmicos.
Este artigo, o sexto da série, é uma sequência dos
trabalhos e estudos sobre o processo de militarização na educação pública
brasileira e todos os transtornos que eles causam.
Esta série de trabalhos é produzido pela Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação, periódico científico
editado pela Associação Nacional de Política e Administração da Educação
(ANPAE), e tem o objetivo de difundir estudos e experiências educacionais,
promovendo o debate e a reflexão em torno de questões teóricas e práticas no
campo da educação.
O sindicato recomenda a leitura deste material para
todos(as) os(as) professores(as) que tiverem interesse em aproveitar os
trabalhos para pesquisas.
Confira abaixo o trabalho na íntegra:
INTRODUÇÃO
A pesquisa mostrou que o nível de educação
atravessa momento crítico, refletido no baixo desempenho escolar de seus
alunos, destacando-se, problemas de alfabetização, falta de domínio de
capacitações para escrever com correção e desconhecimento de noções básicas de
aritmética elementar. A citação acima parece uma das frases ou relatos
recentes, explicitados nas manchetes dos telejornais brasileiros sobre a “baixa
qualidade” da Educação Básica. No entanto, o trecho foi retirado de um
relatório elaborado por Vianna (1989, p.98) há três décadas para o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), ao analisar o desempenho
de estudantes do ensino básico do país. Se o dito problema da qualidade na
educação não parece atual, na fala do recém-eleito presidente da república tem
tido uma piora em consequência da perda da autoridade e de disciplina do
professor em sala de aula. A alternativa para ele passa pela criação de
instituições pautadas em pedagogias militares que “estão à frente em grande
parte das demais”, porque “ainda impõem hierarquia e autoridade aos alunos”
(DOLZAN, 2018, p.1).
A militarização das escolas no atual governo se
fundamenta no decreto nº 9.665, de 2 de Janeiro de 2019 e no documento lançado
em 11 de Julho de 2019 denominado “Compromisso Nacional pela Educação Básica”,
os quais propõem: “A criação de colégios militares “tradicionais” em todos os
Estados, gestados pela esfera federal (marinha, exército e aeronáutica); e a
expansão da gestão compartilhada entre sociedade civil e militar, a partir de
escolas cívico-militares, a cabo dos Estados e Municípios”. A expressão
‘cívico-militar’, cunhada e disseminada pelo governo federal, é passível de
problematização. Do ponto de vista discursivo, a aproximação entre os termos
cívico e militar acena para uma aproximação harmônica ou, talvez, para um
equilíbrio entre essas duas dimensões no contexto da escola. Contudo, como
veremos no decorrer deste artigo, a transposição das escolas para o modelo ‘cívico-militar’
acarreta, dentre outros fatores, impactos diretos sobre a autonomia do corpo
docente e o cerceamento de liberdades fundamentais dos estudantes. O fenômeno
da militarização tem apresentado intensa ampliação nos últimos anos. Entre 2013
e 2017, as escolas estaduais geridas pela Polícia Militar e Bombeiros saltaram
de 39 para 122 em 18 estados (SANTOS; PEREIRA, 2018; CABRAL, 2018) e, até
meados de 2019, registram-se 203 escolas militarizadas em 23 estados e no
Distrito Federal (BRASIL, MEC, 2019).
Chama a atenção que, se a gestão das escolas por
militares é preconizada por governantes que defendem o modelo, pesquisas
recentes também apontam para o apoio de parte da população para resolver o
problema da qualidade de ensino1 . A suposta melhoria do rendimento de
estudantes através da militarização vem propagando um ideal de modelo de
educação a ser adotado (GUIMARÃES, 2017; ALVES; TOSCHI; FERREIRA, 2018). Frente
às narrativas construídas em prol do uso de regras rígidas para gerenciar a
educação, este artigo busca identificar as concepções e condições para a
qualidade manifesta na onda da militarização das escolas. Para tal, buscaremos situar
a narrativa à luz das transformações da qualidade ao longo da educação brasileira,
bem como, em relação às condições político-pedagógicas que sustentam os
supostos resultados da qualidade nas escolas militarizadas. Em termos
metodológicos, este artigo está ancorado em uma pesquisa documental e
bibliográfica nos decretos, legislações e documentos que regem o ensino público
brasileiro, bem como, a partir da análise de matérias disponíveis na grande
mídia que apresentam narrativas em defesa da qualidade da educação a partir das
pedagogias militares.
AS CONCEPÇÕES DE QUALIDADE NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
A discussão sobre a qualidade da educação no Brasil
se populariza a partir do final da década de 1980, ocasionada por, pelo menos,
dois fatores. O primeiro se refere à mudança paradigmática nas políticas
públicas. Os sistemas de massificação da educação, a partir do acesso das
camadas populares, passaram a representar a necessidade de distinguir outras
dimensões de qualidade (CASASSUS, 2009; MARCHELLI, 2010; XIMENES, 2014). 1 No
ano de 2015, um programa de televisão da emissora Bandeirantes emitiu uma
enquete online cuja pergunta era: “Você é a favor da militarização das escolas
públicas”? Ainda que a pesquisa não abordasse o número e o perfil dos
respondentes, os resultados apontaram para 90% favoráveis ao modelo militar. Em
similaridade, no ano de 2019, uma pesquisa realizada pelo Instituto Exata OP no
Distrito Federal, indica que de um total de 925 pessoas entrevistadas, 84,9%
são favoráveis ao modelo implantado na região. Na classe econômica de perfil A
(de maior poder aquisitivo) a aprovação chegava a 95% (CAMPOS, 2019). 2 Neste
trabalho as escolas militarizadas se referem às 203 escolas que haviam, até
2018, passado por processos de militarização nos 23 Estados do Brasil e no
Distrito Federal. Além disso, é válido apontar para a existência de 13 Colégios
Militares do Exército que não integram essa lista, por nascerem vinculados ao Ministério
da Defesa e criados com a função específica de formar quadros para o exército,
além de atender os filhos dos militares, disponibilizando um pequeno percentual
de vagas para alunos proveniente de famílias civis.
O segundo está relacionado às influências
internacionais na importação de modelos de gestão de empresas privadas para
contextos públicos. Sob a onda da qualidade total, os mecanismos de
padronização e mensuração passaram a influenciar o sistema de educação no
Brasil, cuja ideia é padronizar para comparar (OLIVEIRA; ARAUJO, 2005; DIAS
SOBRINHO, 2008). Mas, o que é qualidade? O termo advém do latim, qualitas, cuja
procedência também é do grego, poiótês, que significa definidor de uma
categorização. A qualidade tem sido considerada como uma agregação que confere
valor superior a um bem, a um serviço ou a um sujeito. Trata-se de um atributo
ou predicado virtuoso pelo qual esse sujeito, bem ou serviço se distingue de
outros (CURY, 2010). Morosini (2001) e Davok (2007) citam que, na literatura, o
conceito de qualidade se aproxima de um conjunto de propriedades, atributos e
condições inerentes a um objeto e que são capazes de distingui-lo de outros
similares, classificando-o como o atributo que permite aprovar, aceitar ou
refutar o objeto com base em um padrão de referência. Assim, qualidade implica
em uma ideia de comparação.
No entanto, no campo da educação, a qualidade
admite uma variedade de interpretações, dependendo da concepção que se tenha
sobre o que esses sistemas devem proporcionar à sociedade. Uma educação de
qualidade pode significar tanto aquela que possibilita o domínio eficaz dos
conteúdos previstos, como aquela que desenvolve a máxima capacidade técnica
para servir ao sistema produtivo ou, ainda, promover o espírito crítico e
fomentar o compromisso para transformar a realidade social (DAVOK, 2007). Se a
qualidade na educação é uma distinção entre medidas (condicionando a forma de
avaliar), que possui como pressuposto uma concepção anterior do que se entende
por educação, questiona-se: Quem define os padrões de comparação e a quem
atende a qualidade na Educação Básica? (DIAS SOBRINHO, 2008; CABRITO, 2009). A
história da educação brasileira é marcada, como pano de fundo, por mudanças e
continuidades nas concepções da qualidade. Fonseca (2009), ao analisar os
planos brasileiros de educação sobre a dinâmica socioeconômica e cultural
observa que as primeiras discussões se iniciaram em 1932, promovidas pelo
Manifesto dos Pioneiros. A Constituição Brasileira de 1934 incorporou ideias do
Manifesto, estabelecendo o ensino primário integral, gratuito, de frequência
obrigatória e extensiva aos adultos. O ideal de qualidade da educação básica se
movia pelaadoção de uma pedagogia que facilitasse a individualização do
educando pela atividade livre e espontânea, estimulando a atividade criadora da
criança por meio do exercício prático. Porém, a instauração do Estado Novo
reformulou os planos de educação. A partir de 1937, com o apoio de setores
militares e católicos, o governo lançou um plano de educação que inseriu o
ensino religioso e moral cívico, como espaço de aprendizagem de valores de hierarquia
e disciplina dos Homens. Tais valores se tornaram referência para a qualidade
que buscava a formação de um indivíduo útil e disciplinado para um Estado que
queria ser industrial e nacionalista. As décadas de 1950 apresentaram uma
continuidade no ideal de qualidade na formação de um modelo de sujeito útil
para o mercado de trabalho. No governo de Juscelino Kubitschek, a educação
reproduziu o programa de metas, cujo propósito era preparar técnicos para a
industrialização de base. Nesse período, a concepção de qualidade da educação
se aproxima da produção de competências para o emprego e agregação de valor à
mão de obra no mercado de trabalho. O ano de 1959 é marcado pelo Manifesto dos
Educadores, que contrapõem uma alternativa social ao enfoque economicista. A
qualidade não deveria se fundar em um saber exclusivamente de natureza técnica,
mas abrir a percepção do educando para compreender as condições políticas com
que se defronta e prepará-lo para o empenho coletivo de superação do atraso do
país (FONSECA, 2009).
Porém, o golpe militar de 1964 acarretou a
continuidade do modelo de educação que apreendia a qualidade enquanto um
mecanismo de formação de mão de obra para o mercado. Ao afirmar a padronização
como princípio, a educação distanciou-se mais das ideias dos pioneiros de 1933
e 1959. A qualidade definida pelo Ministério de Educação (BRASIL, MEC, 1971,
p.15) era “formar um cidadão capaz de participar eficazmente das atividades
produtivas da nação”. O fim do regime militar e a abertura gradual da economia
foram acompanhados por mudanças no acesso à Educação Básica. Até 1971, para o acesso
ao ginasial, não bastava concluir o Ensino Fundamental; necessitava-se da
aprovação em um exame de admissão. Portanto, uma minoria conseguia ter acesso
aos níveis mais elevados. Com a reforma da educação no governo militar, a obrigatoriedade
da escolarização de oito anos gerou um paradoxo: se, por um lado, expandiram-se
as oportunidades de acesso e permanência no sistema escolar para amplas camadas
da população, por outro, suscitou-se uma massificação do acesso à educação
básica em um momento em que os gastos com educação atingiam patamares mais
baixos em decorrência da desvinculação mínima de recursos para a área
(CARREIRA; PINTO, 2007).
Nos interstícios desse período (final dos anos de
1970 e nos anos de 1980), Oliveira e Araújo (2005) acrescentam uma fase em que
a qualidade foi medida a partir da ideia de fluxo, definido como número de
estudantes que progridem dentro de determinado sistema. Assim, a comparação
entre a entrada e a saída de alunos era a medida da qualidade de uma escola. A
mudança do período da década de 1980, no entanto, trouxe uma disputa conceitual
sobre as dimensões da qualidade e de seus critérios de avaliação. De um lado,
um grupo formado por educadores progressistas defendia que a qualidade da
educação se baseava no atendimento, ao mesmo tempo, das demandas dos movimentos
sociais e dos problemas revelados pelos estudos existentes nas escolas
públicas. Do outro lado, grupos com interesses conservadores argumentavam que a
expansão das matrículas levou à perda da qualidade. Defendiam a criação de indicadores
de avaliação comparativos entre as escolas (CASASSUS, 2009), na medida em que
não era mais possível verificar a qualidade dos sistemas unicamente sob os
aspectos da exclusão e da repetência (XIMENES, 2014). Ainda que a primeira
vertente tenha obtido conquistas na Constituinte de 1988 e, mais à frente, nas
Leis de Diretrizes e Bases de 1996, o que se observou foi a prevalência da
mudança nos padrões de qualidade a partir da avaliação da totalidade do sistema
educacional (OLIVEIRA; ARAUJO, 2005; FONSECA, 2009).
Na década de 1990, sob os governos de Fernando
Collor e Fernando Henrique Cardoso, os sistemas de avaliação e monitoramento
adotaram indicadores de avaliação de grande alcance. Para tal, a nova política
se centrou na mudança da regulação do sistema, apoiando se na qualidade
interpretada como sen¬do equivalente à pontuação em uma prova estan¬dardizada
(CASASSUS, 2009; MARCHELLI, 2010). A padronização de indicadores de qualidade
manteve continuidade nos 16 anos seguintes do Governo do Partido dos
Trabalhadores, aprofundando os parâmetros de comparação ao investir recursos
financeiros e técnicos na ampliação do sistema em larga escala (FREITAS, 2007;
FERREIRA, 2017).
Nessa perspectiva, os processos formativos se
baseiam em resultados quantificáveis que medem desempenhos e servem de
informação básica aos índices. Por sua vez, tais índices se transformam em
classificações e rankings, que atendem ao mercado e supostamente atestam a
“qualidade” dessas instituições (DIAS SOBRINHO, 2008; THIENGO et al., 2018). Ao
analisar os indicadores nacionais de desempenho como parâmetro de qualidade,
Almeida, Dalben e Freitas (2013) abordam que a lógica se baseia em avaliações
externas, através de um aparato normativo-jurídico que não considera as
particularidades de cada instituição de ensino, mas a média do desempenho cognitivo
de determinada turma. Ademais, ao aplicar uma prova padronizada e ranquear as
escolas com base nas notas dos estudantes, a qualidade é jogada para a
perspectiva de responsabilizar a escola, expondo à sociedade seus resultados, sem
considerar as condições específicas e desiguais entre as diferentes
instituições (FREITAS, 2007). Com base na breve retomada dos planos de educação
no Brasil, é possível notar que a qualidade é um construto imbricado nos
distintos paradigmas de interpretação da educação (MOROSINI, 2001). Logo,
analisar a qualidade é compreender que se trata de uma categoria histórica e socialmente
construída, cujos discursos se alteram no tempo e no espaço, vinculando-se às
demandas de um dado processo (XIMENES, 2014; FERREIRA, 2017). Desse modo, a
qualidade emerge como um conceito em constante disputa, onde diferentes setores
se mobilizam frente às distintas concepções político-pedagógicas que possuem
(CURY, 2010). No caso brasileiro, ao se analisar o período de 1933 a 2016 é
possível notar mudanças nas concepções dos padrões e mecanismos de avaliação da
qualidade. Apesar disso, observam-se continuidades na maior parte dos planos nacionais,
cuja lógica formadora é a mão de obra para o mercado de trabalho. Para
compreender o momento atual (2017 a 2019), torna-se necessário investigar as
visões que justificam a expansão das pedagogias militares, bem como o que entendem
por qualidade nesse modelo educacional.
AS NARRATIVAS DA QUALIDADE NA MILITARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
BÁSICA
Enquanto o primeiro colégio militar surgiu em 09 de
março de 1889, no Rio de Janeiro, o formato de militarização das escolas emerge
a partir de 2001, em parcerias estabelecidas entre as escolas públicas e a
polícia e bombeiros militares (VELOSO; OLIVEIRA, 2016). O contexto foi marcado
por argumentos de que a escola pública projetada na transição do regime
ditatorial para a democracia havia fracassado, o que acarretava a urgência de
se pensarem outros mecanismos para as escolas.
De acordo com entusiastas, deveriam proporcionar a
diminuição da violência, indisciplina e evasão, emergindo, assim, narrativas em
defesa da criação e expansão de modelos militares (GUIMARÃES; 2017). Como
exemplo, em 2012, período em que se expande o processo de militarização das
escolas, a emissora Globo de Televisão realizou duas coberturas jornalísticas
apresentando “casos de sucesso” na área. A primeira, uma reportagem divulgada
no Programa de abrangência nacional, O Bom Dia Brasil. A matéria de 2 minutos e
41 segundos inicia com a fala do repórter Chico Pinheiro sobre as questões da
qualidade e desempenho nos indicadores nacionais: Desigualdade, injustiça
social se combate com educação de qualidade para todos! E entre os resultados
do IDEB, olha que surpresa… Foram divulgados na semana passada e chama a
atenção esse detalhe, das 30 melhores escolas públicas do país, 12 são
militares (G1, 2012).
A narrativa estabelece uma analogia de que as
melhores escolas são aquelas que obtiveram altos desempenhos nas provas
nacionais de avaliação. Dessa forma, infere-se que o bom resultado no IDEB é o
que determina o padrão de qualidade da educação. Durante a matéria, são citados
os desempenhos de escolas militarizadas sob a gestão das Polícias Militares de
Anápolis (Goiás) e de Manaus (Amazonas), ilustrando-as com os maiores
resultados em seus respectivos Estados. Além disso, três tradicionais colégios
militares ligados ao exército foram referenciados (Curitiba, Salvador e Belo
Horizonte) entre os dez melhores do ranking geral da rede pública. No mesmo
ano, uma matéria transmitida pela filiada da Rede Globo tinha como título
“Colégio Militar de Porto Alegre mostra segredo da qualidade de ensino”. A
reportagem de 8 minutos e 12 segundos inicia com o relato denominado de
“sucesso” da escola militar que teve uma aluna campeã do soletrando: Você já
deve ter ouvido falar da qualidade das escolas militares. No último sábado, uma
aluna do colégio militar aqui da capital foi a campeã do soletrando, o programa
do caldeirão do Luciano Huck. Pela instituição já passaram muitos nomes
ilustres como ex-presidentes e o poeta Mario Quintana. Mas, qual será o segredo
dessas escolas para ter um ensino tão reconhecido? […] Que fórmula pedagógica é
essa capaz de impulsionar os estudantes à beira da excelência? O que faz destas
instituições um centro de formação de alunos tão bem sucedidos? (G1, 2012). A
matéria assume enquanto pressuposto que há um “segredo”, uma “fórmula”
pedagógica que conduz à excelência, desconsiderando, contudo, as condições
estruturais, financeiras e perfis socioeconômicos dos estudantes para o suposto
sucesso. Além disso, a qualidade da educação é associada aos desempenhos
acadêmicos em provas nacionais e nas ditas figuras “ilustres” que passaram pela
instituição. Para adentrar os “segredos” do colégio militar de Porto Alegre, a reportagem
entrevista uma aluna que enfatiza “a fórmula pedagógica”: aprendizado e seguir
as tradicionais normas militares, como o uso do uniforme e cumprimento de
comportamentos inspirados nas forças armadas. Ao final, resgata a ideia de que
a qualidade é medida pelo indicador IDEB, o que justificaria a excelência do colégio,
ao estar acima da média nacional.
Com base nas matérias citadas, a qualidade da
educação parece resgatar ideais instaurados no Estado Novo, em 1937. Naquela
época, a formação educacional havia não só recebido influência dos setores
militares, como também utilizava da moral cívica no propósito de naturalizar os
valores ditos centenários das forças armadas: Hierarquia e a disciplina dos
Homens. Porém, outra dimensão da qualidade foi acrescida: Processos formativos
baseados em resultados quantificáveis. A mensuração do desempenho por
indicadores transformada em rankings, representando numericamente a “qualidade”
das instituições. Em 2015, a mesma narrativa foi utilizada para fomento e
expansão do processo de militarização das escolas no Estado de Goiás. O
governo, ao encaminhar à Assembleia Legislativa um projeto para a militarização
de escolas, apresentava como justificativa “os bons resultados deste modelo,
que proporcionam rigoroso padrão de qualidade, primeiro lugar no IDEB de Goiás
e destaque no ENEM”. Ademais, “os colégios militares têm sua efi¬cácia e
credibilidade atestadas pela comunidade, nos ensinamentos de cidadania que são
ministrados, com destaque para o respeito ao cidadão”, o que acarreta a
“ampliação do padrão de qualidade” (ALVES; TOSCHI; FERREIRA, 2018, p. 277).
No ano de 2019, em um contexto de intensos cortes
de verbas para a educação pública, o Governo Federal tem proferido narrativas
em defesa do aumento de colégios militares e da militarização das escolas na
esfera pública. Na comemoração dos 130 anos do Colégio Militar do Rio de
Janeiro, o presidente da república enfatizou: Estamos fazendo no Campo de
Marte, na capital de São Paulo, o maior colégio militar do Brasil. Queremos
preparar os jovens para a quarta revolução industrial. Desta forma mudaremos o
destino no Brasil. […] As escolas militares honram todos os brasileiros com a
educação básica e são bem colocadas nos rankings dos Estados. Queremos colocar
colégios militares em todos os Estados do Brasil (LUNA; DOLZAN, 2019).
A narrativa apresenta similaridades com ideais de
qualidade sustentados durante a ditadura militar. Naquela época o Ministério da
Educação (BRASIL, MEC, 1971) expressava a qualidade a partir da formação de um
cidadão capaz de participar eficazmente das atividades produtivas da nação.
Enquanto isso, o atual presidente lança mão da expressão preparar os jovens
para a “quarta revolução industrial”. No pano de fundo, reproduz a ideia de uma
educação para formar um indivíduo útil e disciplinado para o mercado, porém,
agora se apoiando na qualidade mensurada a partir de provas estandardizadas. Enquanto
ações para ampliar essa concepção de qualidade, o Decreto nº 9.665, de 2 de
Janeiro de 2019, institui a subsecretaria de fomento às “Escolas Cívico-Militares”.
O artigo 1 do Capítulo I da Estrutura Regimental do Ministério da Educação,
estabelece: “O Ministério poderá estabelecer parcerias com instituições civis e
militares que apresentam experiências exitosas em educação” (BRASIL, 2019,
parágrafo único). A expressão ‘experiências exitosas’ reproduz não só a visão
das ditas ‘best pratices’ comum no mundo dos negócios, como abre espaço para a
correlação com educação de qualidade a partir dos modelos de instituições
militares. A referência ‘do êxito’ também estabelece aproximações com as
pedagogias militares: À Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares
compete propor e desenvolver um modelo de escola de alto nível, com base nos
padrões de ensino e modelos pedagógicos empregados nos colégios militares do
Exército, das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, para os
ensinos fundamental e médio (BRASIL, 2019, art. 16, II). Na passagem, é
possível registrar que a adesão aos modelos de escolas militarizadas implica a
replicação das práticas de gestão administrativa e educacional como também a
utilização de processos pedagógicos, considerados referência para desenvolver
uma escola dita de ‘alto nível’. Enquanto o decreto lança mão de expressões
como “experiências exitosas” e “alto nível” para tratar da militarização da
educação, o texto reproduz 32 vezes a palavra qualidade, ao associá-la a ações,
práticas, processos e avaliações que envolvem a Educação Básica, Educação
Técnica, Educação Profissional e Educação Superior. Contudo, suas concepções
são vagas, não definindo o que se entende por qualidade, mas inferindo a
utilização de indicadores para mensuração dos seus padrões: Compete à
Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares: VI – promover a melhoria
da qualidade da educação básica em todas as suas etapas e modalidades a partir
do estabelecimento de objetivos, metas e indicadores que visem ao alcance,
validade, qualidade e efetividade das políticas, programas e ações propostas;
[…] IX – subsidiar a implementação da política nacional curricular, em alinhamento
com o Sistema Nacional de Educação, e estabelecer parâmetros de qualidade tanto
para as condições de oferta da educação básica quanto para a aprendizagem dos
estudantes (BRASIL, 2019, artigo 11 – grifo nosso). Em complemento, o governo
elaborou o texto intitulado ‘Compromisso Nacional pela Educação Básica’. Em um
formato próximo ao uso de slides de PowerPoint, apresenta um conjunto de
propostas para a Educação até o ano de 2030, que, entretanto, não dialoga com
as metas do Plano Nacional de Educação 2014-2024. O texto afirma que o Brasil
apresenta baixos resultados no Programa Nacional de Avaliação de Estudantes
(PISA) quando comparado aos países latinos (Chile, Uruguai, Trinidad Tobaco,
Argentina, Costa Rica, México e Colômbia), o que indica a necessidade da
elevação da qualidade da educação. Porém, estabelece que o baixo rendimento não
implica uma relação linear entre gastos em educação e qualidade. Ao referenciar
os resultados das notas do PISA de 2015, ranqueia o Brasil com outras nações
com desempenhos similares, que supostamente investiram menores verbas. Não é
por menos que, após a divulgação do documento, o Ministro da Educação reafirmou
a ideia de que não é necessária a manutenção das propostas de 10% do PIB,
aprovadas no PNE 2014-2024 para aumentar a qualidade da Educação Básica, mas a
utilização eficiente dos recursos. O pacote de ações educacionais encerra com a
proposição de impulsionar a militarização das escolas. A meta indica a criação
anual de 27 escolas, totalizando 108 novas até o final de 2023. Para justificar
o modelo, o documento esboça um gráfico (FIGURA 1) com os dados do IDEB entre
os anos de 2005 a 2017, referenciando a superioridade da qualidade dos colégios
militares (federais) e escolas militarizadas frente à rede pública tradicional
(civil).
Chama a atenção que os resultados englobam em um
mesmo grupo (civil) os Institutos e Centros Tecnológicos federais que
apresentam desempenhos semelhantes aos colégios militares e às escolas
militarizadas. Ao diluírem as instituições e os colégios técnicos federais
junto ao montante das demais escolas públicas e civis, o resultado joga para o
topo do ranking as escolas com pedagogias militares como únicas no padrão de
‘excelência’ de educação. Não parece coincidência que no ranking relativo ao
desempenho das escolas públicas do ENEM de 2016, o INEP, sob o governo de
Michel Temer admitiu ter cometido o equívoco de excluir 96% dos Institutos e
escolas federais da classificação que mensura a qualidade (MORENO, 2016).
Refeita a inclusão no ano posterior, das 10 melhores instituições públicas do
ENEM em 2017, sete eram colégios de aplicação das universidades federais,
Institutos federais e Centros Tecnológicos (ANDES, 2019).
Por fim, a narrativa da qualidade na militarização
escolar não considera as particularidades de cada instituição, mas a média do
desempenho cognitivo de determinada turma. Ao aplicar uma prova padronizada e
ranquear as escolas com base nas notas dos estudantes, a qualidade é jogada
para a perspectiva de responsabilizar a escola, expondo à sociedade seus
resultados, sem considerar as classes de igualdade entre as diferentes
instituições.
CONDIÇÕES PARA A QUALIDADE NAS ESCOLAS MILITARIZADAS
Ao analisar as condições políticas das escolas
militarizadas que sustentam o dito padrão de qualidade, uma primeira dimensão é
o recurso financeiro. Enquanto o investimento médio por aluno em escolas
públicas civis é de aproximadamente R$ 6 mil por ano, os treze colégios
militares federais recebem três vezes mais, R$ 19 mil ao ano, de uma fonte
específica, o ministério da Defesa (CAFARDO; JANSEN, 2018). As escolas
militarizadas também apresentam particularidades em comparação com a rede
básica de ensino público. Se o recurso é o mesmo do Ministério da Educação,
muitas adotam estratégias para ampliar as fontes por meio de “contribuições
voluntárias”. No estado de Goiás, que possui 46 escolas dessa natureza, até o
final de 2018 cobrava-se a compra de uniforme militar (entre R$250 e R$350), o
pagamento de matrículas, rematrículas, apostilas e até taxas mensais (CUNHA,
2019). Em virtude de tais condutas, o Ministério Público do Estado de Goiás lançou
um ofício a todos os promotores informando que as cobranças nas escolas militarizadas
são ilegais e abusivas à luz da Constituição do Estado, que prevê a gratuidade
do ensino público em estabelecimentos oficiais (TOKARNIA, 2018). Outra condição
para a qualidade é o modo de acesso e o perfil dos estudantes da rede pública
básica. Enquanto a maioria das escolas públicas adota o acesso amplo (sem
provas para inclusão) e têm seu quadro composto por estudantes cujo nível
socioeconômico é médio, nos treze colégios militares do exército, o nível
socioeconômico é considerado muito elevado. Além disso, o acesso é mais
restritivo, já que possuem reservas de vagas (70%) aos dependentes legais de
militares. O restante (30%) inclui um intenso processo seletivo por meio de
provas de admissão, na qual em instituições como o Colégio Militar de Porto
Alegre e Belo Horizonte, o índice supera 70 candidatos por vaga (MUZZI, 2015).
As escolas militarizadas também exibem um perfil
socioeconômico distinto da maioria das escolas da rede pública. Em pesquisa
realizada por Saddi (2015), no Estado de Goiás, praticamente não havia
estudantes com renda menor que um salário mínimo. Registrou-se apenas 5% com
renda de um salário e a maioria entre cinco e sete salários, o que caracteriza
por um perfil socioeconômico médio-alto e alto. As escolas militarizadas fazem
o uso de reservas de vagas para dependentes de militares da Polícia, Corpo de
Bombeiros e integrantes das Forças Armadas. Um caso emblemático é o Estado do
Rio de Janeiro, onde, no começo de 2019, os editais de seleção para estudantes
de três escolas controladas pela Polícia Militar fixaram uma reserva de 90% das
vagas para filhos de policiais (SABOIA, 2019). Enquanto a reserva implica um
filtro para a composição de perfis socioeconômicos distintos entre as três
categorias de escolas públicas, o processo ainda tende a gerar o ‘efeito
Harvard’. Ou seja, as instituições de prestígio recebem estudantes mais preparados
e é admissível que tenham um desempenho relativo maior que os demais. Isto
significa que a concepção de qualidade nas escolas militarizadas não considera
as especificidades ao estabelecer comparações. Os resultados não necessariamente
podem ser atribuídos ao “êxito” ou à ‘fórmula pedagógica’, mas às condições que
são oferecidas, já que as colocam em vantagem frente às demais escolas públicas
(CRUZ, 2017).
A condição para a dita qualidade da militarização
implica ainda conflitos com a legislação anterior. Se os colégios militares são
regidos exclusivamente pelo exército, nas escolas militarizadas a estrutura
organizacional tem permitido a indicação de policiais militares para funções de
diretor militar, de disciplinas e tutores, que atuam nas unidades de ensino
conveniadas. A nomeação para as funções tende a seguir livremente a escolha
pela Polícia Militar entre os membros da corporação, sem a exigência de
formação específica feita pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB
9.394/1996). O modelo adotado diverge da Constituição Federal, em seu artigo
206, inciso V, que dispõe: “os profissionais da educação escolar das redes
públicas ingressarão na carreira exclusivamente por concurso público de provas
e títulos”. A militarização da educação afasta também da Gestão Democrática (elucidada
na meta 19 do Plano Nacional de Educação 2014-2024). Se não é novidade que os
modos participativos não fazem parte dos colégios militares, Santos (2016)
afirma que o regulamento das escolas militarizadas coíbe a participação. Não há
previsão regimental indicando a necessidade de se discutirem coletivamente os
rumos da aprendizagem, nem mecanismos de interação e discussão dos problemas
internos, cabendo-lhes seguir as normas e regras estabelecidas. Algumas
desconsideram direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
como no Estado de Goiás e da Bahia: usar óculos esportivos, boné, tiaras, ligas
coloridas ou outros adornos, quando uniformizados (violação de natureza
leve);apresentar-se com o cabelo fora do padrão, deixando soltos com pontas ou
mechas caídas, ou tingido de forma extravagante (violação de natureza média);
manter contato físico que denote envolvimento de cunho amoroso quando
devidamente uniformizado, dentro do Colégio ou fora dele (natureza grave);
provocar ou tomar parte, uniformizado ou estando no Colégio, em manifestações
de natureza política (natureza grave) (VELOSO; OLIVEIRA, 2016; MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL, 2018). Não é por menos que no Estado da Bahia foi instaurado
um inquérito civil público no âmbito da Procuradoria Regional dos Direitos do
Cidadão para apurar a implantação da metodologia nas escolas públicas. Da mesma
forma, o Ministério Público recomendou que as escolas militarizadas se
abstenham de violar ou restringir a intimidade e vida privada dos estudantes.
Propõe-se proibir a imposição de padrões estéticos quanto ao estilo de cabelo,
unhas, formas de vestir e uso de acessórios (Idem).
Conforme se observa, a militarização modifica a
estrutura das escolas baseando-se na conjugação de consenso e de coerção, tendo
em vista a necessidade de assegurar, por um lado, a hegemonia do conjunto da
sociedade em relação à emergência dos novos modelos de gestão e, por outro
lado, conformar corpos e mentes dos discentes às estratégias de disciplina e
hierarquia de uma instituição militarizada (GUIMARÃES, 2017). Em outras
palavras, no modelo militarização os estudantes não são sujeitos, mas objetos
de intervenção e alvos de mecanismos disciplinares de conformação e
normalização. Assim, cabe questionar se realmente seria esse o papel da
educação que se espera na formação de jovens, marcada por sua submissão e pelo
esvaziamento de sua capacidade de ação política. Além disso, a narrativa de que
as pedagogias militares se apresentam como um novo modelo a ser seguido, parece
atingir os professores da rede estadual, pois se volta às questões pedagógicas.
Subliminarmente, a mensagem pode expressar que os professores da rede estadual
pública não têm competência para produzir bons resultados, sendo necessário,
por isso, transferir as escolas para a Polícia e Bombeiros Militares (ALVES;
TOSCHI; FERREIRA, 2018), sem tocar em questões como a falta de valorização
desses profissionais e a redução de recursos destinados à educação pública.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as concepções de qualidade no modelo de
gestão militarizada nas escolas, ainda que se busque sustentar uma narrativa do
resgate da autoridade do professor e em seguir normas militares tradicionais,
reproduz-se a mesma lógica dos sistemas comparativos e padronizados de
avaliação para mensuração. Ou seja, tais indicadores quantitativos ocultam a
importância de aspectos pedagógicos fundamentais para o pleno desenvolvimento e
para uma formação (e por isso cidadã) dos jovens brasileiros. A qualidade
defendida se mostra como fruto dos desempenhos obtidos nas provas do IDEB e
ENEM; porém, os vieses da narrativa não consideram as condições políticas que
sustentam os supostos resultados. Conforme visto, a militarização das escolas
públicas tem sido marcada por: (i) maiores recursos aos colégios militares
federais, (ii) estratégias de cobranças voluntárias nas escolas militarizadas;
(iii) reserva de vagas para dependentes de militares; (iv) maior acesso a
estudantes com um perfil socioeconômico alto. Com base em tais singularidades,
pode-se deduzir que a tomada de decisões políticas sobre o orça¬mento e
mudanças no processo seletivo pode aumentar a dita qualidade das demais
escolas, sem qualquer necessidade da transformação de escolas públicas em
colé¬gios militarizados (VELOSO; OLIVEIRA, 2016). Outro fator a ser considerado
é que as escolas militarizadas ao adotarem reservas de vagas, selecionam o seu
público, ação que impulsiona vantagens quantitativas nos processos de avaliação
pedagógica e nos indicadores de qualidade.
No entanto, isso revela um mecanismo de reprodução
das desigualdades, visto que as demais escolas públicas recebem todos os
segmentos sociais num contexto político de subsequentes reduções dos
investimentos públicos. Ademais, sob o pretexto do aumento da qualidade da
educação, a militarização não só se distancia da gestão democrática escolar,
como aponta para incongruências frente à Constituição Federal de 1988, ao
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB 9.394/1996), ao permitir a inserção de professores militares sem concursos
e formação na área, bem como adotar normas e regras militares que violam ou
restringem a intimidade e vida privada dos estudantes.
É válido destacar que no presente artigo não se
discutiram as peculiaridades existentes nos processos de militarização de
escolas estaduais e escolas municipais, considerando suas diferentes nuances.
Nesse sentido, a título de proposta para novas agendas de pesquisa, sugere-se a
discussão aprofundada das metodologias específicas e dos distintos processos de
militarização que têm sido levados a cabo em escolas públicas pertencentes
tanto ao nível estadual quanto municipal.
Em conclusão, na medida em que o espaço público
passa a ser estruturado de forma militarizada sob a égide da disciplina e da
hierarquia, o modelo aprofunda a narrativa da dita necessidade de aumento de
qualidade da educação brasileira, servindo, entretanto, aos interesses do
mercado através da formação de mão de obra qualificada em indicadores
padronizadores, porém, também dócil e obediente à manutenção da ordem vigente
do sistema.
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DANIEL CALBINO PINHEIRO é Docente do Programa de
Mestrado em Educação da UFVJM. Doutor e Mestre Administração pela UFMG.
Especialista em Filosofia pela UFSJ. Professor Adjunto da UFSJ. E-mail: dcalbino@ufsj.edu.br ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8260-6126
RAFAEL DIOGO PEREIRA é Doutor em Administração pelo
Centro de PósGraduação e Pesquisas em Administração (CEPEAD) da Universidade
Federal de Minas Gerais, na linha de pesquisa de Estudos Organizacionais e
Sociedade, com realização de doutorado sanduíche junto a Universidad
Complutense de Madrid, Espanha. Possui mestrado em Administração também pelo
CEPEAD (2010). Graduado em Turismo, com ênfase em Gestão de Empreendimentos Turísticos,
pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Professor do Departamento de
Ciências Administrativas da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade
Federal de Minas Gerais. Pesquisador e Extensionista do Núcleo de Estudos
Organizacionais e Sociedade (NEOS/UFMG). E-mail: rdp.ufmg@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1057-2614
GERUZA DE FÁTIMA TOME SABINO é Doutora em
sociologia pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara – Unesp (2008),
Mestre em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília –
Unesp (2003) e graduada em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências
Contábeis e de Administração de Marília – FEESR (1998). Atualmente é Professora
Associada do Departamento de Computação, no curso de Sistemas de Informação da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. E-mail: geruzaft@hotmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6326-3017
Recebido em agosto de 2019
Aprovado em setembro de 2019
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