Por Mia Couto
"Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco
desempenho acadêmico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens
cresçam sem referências morais. Estamos empenhados em assuntos como o
empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem
empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse
toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em
preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do
seu país, bons cidadãos do mundo.
Escrevi uma vez que a maior
desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo
ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em
vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui
promovido..,) . Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas. Outra desgraça de
uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E
esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um
jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um
jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes
fazem lembrar a sua própria origem.
É preciso remar contra toda
essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar
histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi
escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta
os outros."
(Mia Couto)
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